resenha:: ilha do medo, de dennis lehane

uau! que experiência!
minha cunhada havia me emprestado esse livro no natal de 2017 e eu ainda não tinha lido, estava procrastinando absurdamente, esperando o momento ideal, as férias, a vibe. decidi lê-lo agora, após ver uma resenha no youtube (resenhas são ótimas motivações) e de tão abismada que estou, decidi que ele merecia um espacinho de reflexão por aqui.

No verão de 1954, o xerife Teddy Daniels chega a Shutter Island com seu novo parceiro Chuck Aule. A Dupla deverá investigar a fuga de uma interna do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, reservado a pacientes criminosos. Sem deixar vestígios, a assassina Rachel Solando escapou descalça de um quarto vigiado e trancado à chave. Os médicos, funcionários e enfermeiras da instituição não parecem dispostos a colaborar com a investigação. E as mentiras vêm diretamente do enigmático médico-chefe do hospital. O desaparecimento de Rachel traz à tona uma série de suspeitas sobre o hospital: com suas cercas eletrificadas e guardas armados, talvez ele não seja apenas mais um sanatório para criminosos. Surgem rumores de que uma abordagem radical e violenta da psiquiatria seria lá praticada - as suspeitas incluem desde terríveis experiências com drogas e cirurgias experimentais, até o desenvolvimento de instrumentos a serem usados na Guerra Fria. Enquanto isso, um furacão se aproxima da ilha, precipitando uma revolta entre os presos. Quanto mais perto da verdade Teddy e Chuck chegam, mais enganosa ela se torna.

Deus, como eu gostaria de ouvir uma análise desse livro feita pela Rejane ou pelo Nicolas...

eu preciso começar dizendo que o narrador dessa história - pasmem - é em terceira pessoa. justamente por isso, eu, inocentemente, pensei que não seria possível ser enganada por ele. 
o narrador não está na cena, mas ele se aproxima muito dos xerifes, mais do que qualquer outra pessoa. ele chega na ilha, acompanha os pensamentos de Teddy, fica coladinho durante a investigação, nos bons e maus momentos. para ser mais exata, vemos o que Teddy vê, sentimos o gosto do cigarro que ele fuma, temos os pesadelos que ele tem. 
é essa a graça da coisa: foco narrativo. a narração e o enredo giram em torno dele, isso fica evidente logo no começo. 
particularmente, gosto muito das narrações mais poéticas, daquelas que a gente pode grifar o livro todo. isso acontece em Ilha do medo! as partes mais bonitas, na minha opinião, são as palavras e pensamentos de Teddy a respeito da esposa, Dolores. o tipo de amor cinematográfico e divinal, que quebra um pouco da tensão que você vai sentir durante a leitura. Teddy ama Dolores de todo seu coração e vive dizendo que daria a vida, a alma e tudo o mais para tê-la de volta. 
há cenas eróticas, nada de mais, o que deixa a narração relativamente leve até a metade do livro, mais ou menos.
eu fiquei com medo? sim! acredito que o me fez ter medo foram o espaço e a ambientação extremamente bem feitas, cheias de detalhes. logo no começo, passamos por uma paciente e ela leva a mão à boca e diz "shhh" para os xerifes, (essa parte tem no trailer do filme). me incomodei com a descrição do hospital, dos pacientes, dos funcionários. genial a ideia de colocarem um furacão nessa história! quem não teria medo de um furacão? furacão e ratos. muitos ratos. 
muitos.
ratos. 
temos o tempo em que os xerifes passaram na ilha - quatro dias - e também eventos que ocorreram antes, como toda a história de Teddy com o pai, sua passagem pela guerra e, claro, Dolores, a parte mais importante de sua vida. 
nos dias três e quatro, especificamente, fiquei com medo. as coisas parecem não se encaixar, os outros pacientes avisam Teddy para que ele fuja o mais rápido possível e fica cada vez mais difícil se comunicar com a Polícia Federal. presos numa ilha de criminosos loucos sem conseguir se comunicar com o lado de fora. Teddy fica vez mais perturbado, não consegue dormir bem, desconfia até de seu parceiro e amigo Chuck. sua vente fica anuviada, anuviada, anuviada... e nossa também. 
e tudo isso, amigos, provocados por um inocente narrador em terceira pessoa.
como você pode fazer isso comigo, Dennis Lehane? 

a impressão que eu tive no final foi de 
(pausa dramática) 

loucura. 
enganação. 
eu fiquei louca e fui brutalmente enganada por causa do bendito foco narrativo e do que ele fez com o meu cérebro, pobre cérebro, ingênuo, a mercê do que manipulamos para que ele possa nos ajudar ou nos trair.
o amor? cérebro. glândulas, hormônios. o amor pode ser facilmente desencadeado com vinte minutos de conversa fiada, que fazem com que você se apaixone por alguém que acabou de conhecer, te fez rir e seu cérebro liberou uma combinação de hormônios. pronto. é sua alma gêmea.
o medo? seu cérebro.
a sua garra, força de vontade, capacidade de levantar após uma decepção, a própria decepção, a consciência das coisas, a fé, as decisões políticas, os sentimentos e as memórias, tudo pode ser facilmente apagado se você cair da escada, você deixa de amar alguém se cair da escada, você apaga todo o seu passado, todas as suas conquistas, tudo o que você é. 

dou cinco estrelinhas pra esse foco narrativo, ops, livro. 
leiam! 



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